Publicado em 06/10/2016

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ONU alerta brasileiras para ‘golpe do noivo’ na web

Homens se passam por funcionários da entidade para conseguir dados e dinheiro de mulheres que conhecem na rede

Somente em 2016, a entidade recebeu mais de 75 pedidos ou questionamentos de brasileiras.

GENEBRA - Mulheres brasileiras são o novo alvo de uma fraude cometida por um grupo que usa o nome da ONU para obter informações, endereços e mesmo dinheiro no Brasil. Uma das suspeitas é de que essa seja uma estratégia de grupos criminosos ou terroristas para conseguir vistos para entrar no País.

Somente em 2016, a entidade recebeu mais de 75 pedidos ou questionamentos de brasileiras que, depois de conhecer homens pelas redes sociais, foram à entidade para saber se a informação que o novo parceiro forneceu era real. Em todos os casos, a ONU insiste que se trata de uma fraude e, nos próximos dias, o escritório da entidade no Rio vai lançar uma campanha para orientar as eventuais vítimas a não fornecer nenhum tipo de dado aos grupos.

Os incidentes já foram comunicados pelo escritório da ONU no Rio ao Departamento de Segurança das Nações Unidas que, por sua vez, emitiu um alerta para todos os escritórios de todas as agências da entidade País. A ONU também levou o caso para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no Rio. A orientação da polícia é que as vítimas entrem em contato antes de fornecer seus dados.

Férias. O procedimento em todos os casos é parecido. Mulheres conhecem homens por Skype, redes sociais e sites de relacionamento. Eles dizem estar em missão de paz na Síria, no Afeganistão ou no Iraque e pedem informações pessoais, como nome e endereço. Com essas informações, dizem, podem solicitar à entidade um período de férias no Brasil para se casar.

Em muitos casos, pedem ainda que elas mandem dinheiro para as supostas férias, prática inexistente na ONU. A mulher que envia seus documentos a um e-mail dado pelos criminosos recebe um aviso em português, mas repleto de erros, sobre como proceder. Elas são instruídas a pagar US$ 700 para que seu dossiê seja liberado.

Mas há a suspeita de que o roubo não seja o único objetivo do bando, uma vez que se pede uma carta da brasileira assumindo sua responsabilidade pelo estrangeiro, dando seu endereço e dados pessoais. Isso é um dos pedidos para facilitar o visto brasileiro em outros países.

Mensagens. O Estado teve acesso a alguns desses pedidos de ajuda de mulheres brasileiras para a ONU. Em praticamente todas, o processo solicitado é o mesmo. “Peço por gentiliza que me esclareça, qual o procedimento para que um sargento que está na missão de paz  em Bagdá  pela ONU  consiga ser  liberado para vir de  ferias ao Brasil?”, diz um deles.

 

“Sou brasileira, gostaria que me informassem se é possível solicitar um Certificado de férias para um médico americano que se encontra prestando serviços em Cabul. E se existe algum custo solicitado pela ONU”, afirmou outro. 

 

Em alguns casos, fica claro também que algumas das mulheres já se comprometeram com os novos conhecidos. “Meu noivo é residente e domiciliado na cidade de Dallas/Georgia USA, vamos nos casar e eu preciso saber quais são os procedimentos legais para que esse casamento se realize em breves dias, quais documentos serão necessários (...). Ele está em missão de paz pela ONU na Síria, precisa da permissão de férias para que venha ao Brasil, ele quer estar aqui para preparar tudo na próxima semana , se assim lhe for concedido a antecipação de suas férias”, diz um dos pedidos de uma brasileira para a ONU. 

 

Mas não são poucos os emails de pessoas que questionam o sistema criado. Num deles, a neta de uma das vítimas escreve para a ONU colocando em dúvida a palavra do suposto funcionário internacional. "Minha avó conheceu um médico pelo Skype, que diz trabalhar pela ONU na Síria. E que para que ele possa viajar e conhece-la, é necessário que ela envie um email para ONU pedindo autorização. Eu particularmente achei a história um pouco estranha, mas como não sei como funcionam os procedimentos e nem se a ONU de fato tem médicos na Síria, achei melhor vir perguntar como funciona, e se de fato essa pessoa existe”, afirma.

 

Em outro email, uma das vítimas também duvida do que está ocorrendo. “Eu conheci um homem pelo site Par Perfeito e ele diz que é do Exercito Americano e que esta no Iraque a serviço de paz,segundo ele se apaixonou por mim e quer vir ao meu encontro,mas só pode sair de lá se eu escrever para ONU e pedir para lhe conceder umas férias, isso procede? Desde já agradeço a resposta de esclarecimento”.

 

Uma das mulheres brasileiras chega a enviar às Nações Unidas o email que foi fornecido a ela. “Boa noite ! Fiz um amigo pela internet que diz estar no Iraque .Ele me pediu que enviasse a ONU uma solicitação de férias me passando por sua noiva . Gostaria de saber se isso é possível ou se trata de um golpe. O suposto endereço de envio seria : unvacationdepartmentoffice@consultant.com
. Obrigado, aguardo informações". 

http://estadao.com.br/n

Jamil Chade