Publicado em 09/11/2016
Enem 2016: total de acertos no gabarito é diferente de nota final; entenda
Teoria de Resposta ao Item possibilita equivalência entre diferentes provas do exame. Método confere diferentes dificuldades a cada questão e avalia competência do aluno entre chutes e acertos conscientes.
O gabarito do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) dá aos candidatos apenas uma ideia da
performance na prova. Além de não trazer o resultado da redação, ele vai dar o
número absoluto de acertos. A cada um desses acertos vai ser atribuído um peso
e uma nota, conforme um modelo chamada Teoria de Resposta ao Item, ou TRI.
Esta metodologia que orienta as correções do Enem é o que garante, por exemplo, a equivalência dos testes aplicados nestes sábado (5) e domingo (6) e aquele que será feito nos dias 3 e 4 de dezembro. A TRI é baseada em questões previamente classificadas como fáceis, moderadas e difíceis e no total de acertos que o aluno tem dentro de cada grupo.
"A TRI confere ao Enem uma precisão
que outros vestibulares só conseguem por meio de mais provas, como a segunda
fase da Fuvest, por exemplo"
"É uma metodologia
que cria uma escala de dificuldade, pontuando mais de acordo com o obstáculo
que cada questão coloca ao candidato", adiciona o professor, que é também
sócio-fundador da empresa de avaliação educacional Primeira Escolha.
Na prova baseada na TRI,
as perguntas divididas previamente em diferentes dificuldades permitem um
cálculo estatístico e de outras teorias matemáticas aplicadaspara que os
avaliadores analisem de maneira mais profunda as respostas dos alunos, ainda
que em testes de múltipla escolha.
Se eles notam que o
aluno errou muitas perguntas consideradas fáceis e acertou muitas difíceis, a
metodologia indica que houve chute, fazendo sua média cair. Logo, a nota final
passa a depender não só do número de acertos, mas também da dificuldade de cada
questão acertada ou errada.
Ainda com dúvidas sobre
a TRI? O G1 lista abaixo 10 perguntas e respostas para
entender melhor a metodologia.
1. Por que o nome 'Teoria de Resposta ao
Item'?
Porque a avaliação
decorrente dela é feita em cima de cada questão da prova, ou item, levando em
consideração sua dificuldade. Depois, essas informações são cruzadas com as referentes
à performance do aluno em outras questões, de dificuldades semelhantes e
diferentes, desenvolvendo uma estatística que diferencia acertos por
competência de acertos por sorte, pontuando mais os pertencentes ao primeiro
grupo.
2. Existe outra metodologia de avaliação
para provas como o Enem?
Sim, e ela era empregada
no próprio Enem até 2010. Trata-se da Teoria Clássica dos Testes, ou TCT, que
ainda é a mais comum nos vestibulares brasileiros, incluindo a prova da Fuvest.
Nela, a avaliação é feita com base puramente no número de acertos. Se alguém
acerta 60 alternativas de um número total de 100, acerta 60% da prova e recebe
uma nota proporcional.
De acordo com Tadeu,
entretanto, essa metodologia não é antagônica ao TRI, sendo "somada"
à ela pelos próprios avaliadores. "Empregando a teoria clássica, você
consegue fazer uma análise sobre a qualidade da própria avaliação, vendo
irregularidades e incongruências", diz. "Nós aplicamos ela antes da
avaliação pela TRI, justamente para fazer essa análise da qualidade da
prova".
3. Então, por que o Enem não continuou
usando a TCT?
Segundo o professor, por
uma questão de eficiência. "Se você pegar um vestibular muito concorrido,
como, por exemplo, um curso de Medicina, e aplicar uma avaliação puramente
baseada no número de acertos, mesmo com uma nota de corte alta, você não vai
conseguir um diferencial entre os concorrentes suficientemente grande para
encerrar o processo seletivo em uma única etapa", diz.
"É por isso que,
nesse caso, se faz necessário uma segunda prova, como por exemplo a Segunda
Fase da Fuvest", afirma. "Ao empregar-se a TRI, você aumenta o nível
de precisão, porque passa a avaliar de forma mais completa as competências do
aluno. Assim, mesmo em uma prova grande como o Enem, você é capaz de apontar os
selecionados em uma única etapa", adiciona.
4. E esse é o único motivo para o emprego
da metodologia no exame?
Não. Antes de uma porta
de entrada em universidades públicas e privadas, o Enem é uma ferramenta de
avaliação da qualidade da educação no Ensino Médio, em todo o país. Logo, como
afirma Tadeu: "a TRI cria uma medida do conhecimento de cada aluno de
acordo com cada matéria. Ao criar essa medida, a capacidade de análise do
conhecimento desse estudante aumenta, o que evidencia áreas carentes de melhoras
e áreas nas quais o ensino tem sido suficientemente bom".
5. Em casos como o deste ano, em que duas
provas devem ser aplicadas, alguém sai beneficiado?
De acordo com Tadeu,
não. Uma vez empregado em uma nova prova, com questões totalmente diferentes
mas que respeitem a escala diversa de dificuldade própria à TRI, ambas as
provas serão estatisticamente equivalentes, já que apresentarão questões de
todos os níveis de dificuldade e apontarão da forma mais exata possível quais
respostas foram dadas por competência e quais, por sorte, pontuando de acordo.
6. O Enem com TRI é mais difícil do que o
Enem sem a TRI?
Segundo o MEC, não. A
aplicação da metodologia não altera significativamente a performance dos
candidaos, mas sim detalha melhor as notas, ajudando a evitar empates e
determinando melhor as competências de cada um. É virtualmente nula a
possibilidade de um candidato menos preparado tomar a vaga de um candidato mais
preparado.
7. E se eu tentar identificar o nível de
dificuldade de cada questão, consigo burlar o sistema de avaliação da TRI?
Dificilmente. Uma vez
que cada aluno tem seu próprio repertório acadêmico, apontar quais questões são
mais fáceis e quais são mais difíceis acaba sendo muito subjetivo e
extremamente impreciso. Além disso, pode acabar fazendo com que você perca
tempo precioso da sua prova.
8. É verdade que, com a TRI, torna-se
impossível tirar nota 1000 em todo o Enem? E impossível, também, zerá-lo?
Sim e não (mas zerar é
impossível uma vez que a nota mínima da prova é 200). Isso acontece, segundo o
professor Tadeu da Ponte, porque a nota não retrata o desempenho individual do
candidato, mas a posição que ele ocupou na escala de proficiência onde todos os
milhões de outros candidatos também são incluídos.
"A nota 1.000 é
como se fosse o infinito da escala, e ninguém vai ter uma habilidade que nunca
possa ser superada por outros", ele afirma. Entretanto, o professor aponta
que é possível que estudantes ultrapassem a marca dos 1.000 pontos em uma única
disciplina, como aconteceu em 2015, comMatemática.
9. Se com a TRI o chute é detectado e
recebe menos pontos, é melhor deixar questões em branco?
Não. Mesmo com uma
redução de nota em casos detectados de acerto por sorte, uma pontuação menor já
é maior do que ter uma questão zerada por omissão. Se tiver certeza de não
saber a resposta, mais vale o chute que deixar em branco.
10. E, afinal, há algum ponto negativo na
aplicação da TRI?
Como explica o professor
Tadeu da Ponte, sim. "Uma vez que se trata de um modelo probabilístico,
ele nunca será absolutamente exato. Logo, não temos como garantir com total
precisão que um aluno vai sempre acertar os itens que estão dentro da sua
capacidade e errar aqueles que estão acima", diz. "Certas vezes, ele
pode errar uma questão fácil, e em outras, acertar uma difícil".
No entanto, ele afirma
que esse modelo é a mais eficiente tecnologia de avaliação para uma prova como
o Enem. "O único grande argumento contrário à metodologia vem das lacunas
de conhecimento que as pessoas têm dela. E, antes, de uma questão cultural que,
eu acho, já foi superada.