Publicado em 21/02/2017

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A cada minuto, sete motoristas ‘furam’ pedágio em rodovias paulistas

Número de casos em que tarifa não foi paga nas estradas concedidas subiu de 1,8 milhão em 2015 para 3,8 milhões

Sem pagar. Aumento de casos ainda é atribuído a práticas cada vez mais comuns de burlar o sistema, como tampar placa do veículo ou alterar numeração


“Já furei muito pedágio em São Paulo, mas foi puro protesto, porque é caro demais”. Sem medo de ser identificado, o caminhoneiro Paulo César de Oliveira Pereira, de 42 anos, “20 de estrada”, confessa dirigir um dos sete veículos que passam, a cada minuto, pelas praças de pedágio das rodovias paulistas sem pagar tarifa. 


Pereira garante que parou de cometer a infração após ter sido multado recentemente. Mas os dados da Agência Reguladora de Transportes Rodoviários de São Paulo (Artesp) mostram que a prática tem ganhado cada vez mais adeptos nas estradas. Em um ano, o número da evasão de pedágios dobrou nos 6,9 mil quilômetros de rodovias concedidas, passando de 1,8 milhão em 2015 para 3,8 milhões no ano passado, alta de 103%.


Na maioria dos casos, segundo as concessionárias de rodovias, os motoristas “colam” na traseira do veículo da frente para passar pelas cabines de pagamento eletrônico quando a cancela ainda está levantada. A prática é registrada pelas câmeras instaladas nas praças e é infração grave de trânsito, com multa de R$ 195,23 e anotação de 5 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).


Segundo a Artesp, a expressiva alta nos registros de evasão de pedágio está relacionada ao aumento das práticas para burlar o sistema, que envolvem ainda tampar a placa do veículo e alterar a numeração para fugir da multa. Desde dezembro de 2013, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permite que um agente de fiscalização multe o veículo usando apenas o sistema de videomonitoramento. Mais recentemente, câmeras com leitor de placas estão sendo instaladas nas cabines de pedágio.


O motorista Claudinei Camargo, de 42 anos, que mora em São Roque, no interior paulista, já cansou de ver colegas de profissão burlando o pedágio na Rodovia Castelo Branco. “À noite, com o farol alto, as câmeras cegam e não pegam a placa. Eles também sabem as cabines que não têm câmera e passam em comboio. Um vai colado no da frente, com o Sem Parar”, conta ele, que também já testemunhou carros passando na faixa de cobrança automática colados em seu caminhão. “Um dia desses, um cara até buzinou para me agradecer.”


O caminhoneiro conta ainda que a empresa na qual trabalha decidiu instalar o dispositivo de cobrança eletrônica nos veículos da frota depois de receber muitas multas por passagem no pedágio sem pagar. “A empresa dava o dinheiro para a tarifa, mas o colega preferia embolsar e correr o risco.” “Com o Sem Parar, a cobrança vai para a empresa e o motorista não precisa levar dinheiro do pedágio na viagem”, disse. 



Segurança. Para o engenheiro civil Creso de Franco Peixoto, mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), a explosão de casos de evasão de pedágio também pode estar relacionada ao aumento do número de motoristas que utilizam o modelo de débito automático, que já corresponde a 58% dos pagamentos totais de pedágio. Segundo a Artesp, as quatro empresas que operam o sistema de pedagiamento eletrônico já somam 4,3 milhões de veículos cadastrados em São Paulo.


Peixoto enxerga as fugas de pedágio como uma ameaça à segurança dos motoristas nas rodovias. “Em 2014, fiz um levantamento experimental em uma praça de pedágio no interior paulista onde detectamos que 67% dos veículos não respeitavam a velocidade máxima de 40 km/h. Teve caminhão que passou a 97 km/h. Imagina se o veículo da frente para por algum problema no aparelho, seria uma tragédia”, afirmou.


O especialista defende a retirada das cancelas para evitar acidentes e a instalação de radares especiais para flagrar casos de evasão de pedágio. “Já existem sistemas eficazes que são capazes de identificar a evasão mesmo em alta velocidade. Além disso, é preciso punir rapidamente o infrator, fazendo uma fiscalização alguns metros após a praça de pedágio para parar o motorista e autuá-lo na hora”, defendeu.


A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) informou que os veículos são fiscalizados 24 horas por câmeras de monitoramento e que “os evasores são identificados pelas concessionárias e acionados pela Polícia Rodoviária Federal”. Segundo a entidade, a prática de furar pedágio “é uma grave questão de segurança”. A Artesp afirmou que as empresas cumprem protocolos de sinalização das vias e das praças de pedágio e de fazer campanhas educativas para conscientizar os motoristas sobre os riscos de acidentes.


PARA ENTENDER - Multas podem ser por câmera

O uso de imagens captadas por câmeras de videomonitoramento para multar motoristas infratores nas rodovias foi autorizado há pouco mais de três anos pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) com o objetivo de intensificar a fiscalização e reduzir o número de acidentes nas estradas. A Resolução 471 do órgão, de dezembro de 2013, passou a permitir que policiais rodoviários autuem à distância os veículos que cometem evasão de pedágio, com base em imagens captadas por centrais de monitoramento de concessionárias ou do órgão responsável pela via. Até a publicação da resolução, a autuação de veículos que passam nos pedágios sem pagar tinha de ser feita por um policial acomodado ao lado das cabines.

estadao.com.br

Fabio Leite e José Maria Tomazela