Publicado em 27/07/2016
Guarda de SP acolhe usuários de crack e moradores de rua
Guarda municipal sente pena de usuários de crack, os leva para casa e oferece ajuda na reitegração da sociedade.
De uma farda azul marinho, cassetete
e revólver na cintura, o guarda municipal Marcos de Moraes, 51, observa a multidão
na cracolândia durante sua patrulha. À distância, ele analisa o comportamento
dos usuários de drogas que frequentam o local.
Moraes se aproxima de alguns e
oferece apoio para aqueles que mais o comovem. “Você aceita ajuda? Eu não estou
brincando. Se você confiar em mim, eu posso te tirar das ruas”, diz o guarda
com firmeza na voz e olhar acolhedor, enquanto segura a mão de seu
interlocutor.
Em oito anos na GCM (Guarda Civil
Metropolitana), Moraes já encaminhou para abrigos, levou de volta para os braços
da família e até para morar dentro de sua própria casa cerca de 50 usuários de crack e moradores de rua.
“Levo para casa mesmo. Sei que é um número pequeno, mas não me importo com
quantidade, e sim com qualidade. Quando
pego um caso, vou até o fim”, disse em entrevista à BBC Brasil.
O Facebook é uma das principais
ferramentas que Moraes usa para encontrar as famílias dos moradores de rua. Mas
os compartilhamentos na rede também o levaram a conhecer sua mulher. Karyne
Santana Xavier de Moraes, 29. “Eu sempre compartilhava as postagens dele e a
gente começou a conversar. Nos encontramos, namoramos dois anos e casamos”,
contou ela.
Hoje, Moraes vive em uma casa alugada
em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) com a mulher Karine e o pedreiro Geraldo
Martins, 63, que foi resgatado quando morava nas ruas de São Bernardo do Campo,
também na Grande SP.
O guarda levou o desconhecido para
dentro de casa em fevereiro depois de ver um alerta no Facebook para o caso
dele- o senhor que saíra de Pernambuco em busca de um emprego e estava morando
na rua.
“Ele trabalha em São Paulo e a mulher dele ficou sozinha. Não sei como ele teve coragem de me trazer. Ele confia demais em mim. É amizade demais, parece que ele é meu filho”, disse Geraldo com lágrimas nos olhos. Até mesmo os dois gatos e o cão de estimação do guarda-civil adotados da rua.
Geraldo veio de Pernambuco com a promessa de um trabalho
“Eu dependo da ajuda de muita gente
para fazer esse trabalho social porque ninguém faz nada sozinho. E eu preciso
de muita gente para me ajudar. Não financeiramente. Quando há gastos, são meus.
A primeira coisa que a pessoa precisa é se alimentar, mas isso é o de menos. Se
a pessoa precisa de uma passagem, eu que pago, comprar roupa, eu que compro. O
que tiver que fazer eu faço com o maior prazer, nunca me faltou nada.
Algumas pessoas já quiseram me ajudar
com passagens. É sempre bem-vindo, mas eu quero profissionalizar isso, talvez
criando uma ONG. O meu comandante na GCM, Gilson de Meneses, me dá todo o apoio
necessário dentro da corporação. Se eu preciso de carro, tenho à disposição.
Isso é muito importante. Quando eu preciso fazer uma busca, o computador da guarda
está à minha disposição também. Mas eu também faço isso em casa como uma
extensão desse trabalho social. Esse é o meu dom”, diz Moares.
Paulo voltou para casa de sua família (à direita) no Rio Grande do Sul, onde vive até hoje