Publicado em 22/08/2016
Rio 2016 corre contra o tempo por 'Paralimpíada da superação'
O corredor paralímpico A.J. Digby durante um treino nos Estados Unidos
A capital britânica encantou o mundo do
esporte para pessoas com deficiência ao realizar um evento de casa cheia e
"abraçado" pela mídia local. O britânico Phillip Craven, presidente
do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), sabia que a tarefa de repetir tal
sucesso seria mais difícil no Brasil. Só não imaginava quanto.
A pouco mais de duas semanas da
Cerimônia de Abertura, no Maracanã, o IPC faz, junto com o comitê organizador
da Rio 2016, malabarismos para tentar fazer com que a versão "enxuta"
da primeira Paralimpíada na América do Sul não seja um passo atrás na luta por
mais visibilidade e reconhecimento.
Em meio a um programa de cortes
de última hora, o evento corre contra o tempo para atrair o interesse de um
público que, mesmo para os padrões brasileiros, tem mostrado apatia na corrida
para as bilheterias.
O
Comitê Rio-2016 informou, na última quarta-feira, que apenas 12% dos ingressos
haviam sido vendidos, ou seja, 300 mil entradas. Dois dias depois, o prefeito
do Rio, Eduardo Paes, disse que "praticamente nenhum" ingresso havia
sido vendido até então, mas que esperava que o cenário mudasse à medida que os
jogos se aproximem.
Durante
a entrevista coletiva, Paes também admitiu que a prefeitura poderá fazer um
aporte de cerca de R$ 150 milhões para o evento, explicando que parte do
déficit se deve à pouca procura por ingressos.
'Pacote
de austeridade'
A
cúpula do IPC realizou uma entrevista coletiva no Parque Olímpico da Barra em
que anunciou um "pacote de austeridade" para reduzir os custos da
Paralimpíada. Além da transformação do Centro Olímpico de Deodoro em arenas
independentes, sem as áreas comuns, e da redução da força de trabalho nas
instalações, o comitê organizador reduziu drasticamente a oferta de ingressos.
A carga inicial de 3,1 milhões foi reduzida para 2,4.
"Nunca
nos 56 anos de história do movimento paralímpico enfrentamos uma situação como
essa. Tivemos sérios problemas, mas ao menos estamos conseguindo ver algum tipo
de luz no fim do túnel. As autoridades brasileiras tomaram medidas para
possibilitar que ofereçamos a atletas e a espectadores a melhor experiência
possível nesses Jogos", disse Craven.
Phillip Craven, residente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), durante evento na Arena do Futuro, no Parque Olímpico do Rio
O
dirigente se referiu especificamente à injeção de caixa prometida pela
prefeitura do Rio de Janeiro e pelo governo federal, totalizando US$ 250
milhões e que, segundo a Rio 2016, compensarão problemas de caixa causado pela
venda baixa de ingressos até agora e por buracos no orçamento único
olímpico/paralímpico causados por despesas de emergência como os reparos na
Vila dos Atletas.
A
verba também será fundamental para fazer o repasse das verbas de ajuda de custo
de viagem para uma série de países, atrasada há três semanas e que poderá
impedir a vinda de pelo menos dez nações ao Rio. Pelo menos por enquanto, tanto
o IPC quanto a Rio 2016 descartaram qualquer redução no número de competições.
Os
próximos esforços estarão centrados na venda de mais ingressos. Os
organizadores esperam chegar ao menos a 2 milhões de entradas vendidas e, para
isso, não vão hesitar em pegar carona no apelo do Parque Olímpico. O centro
nervoso dos Jogos na Barra atraiu mesmo espectadores que não estavam dispostos
a assistir partidas, e que buscaram ingressos mais baratos somente pela chance
de passear pelo complexo.
Além
de oferecer ingressos de até R$ 10, a Rio 2016 estuda até abrir os portões do
parque para permitir o livre trânsito de visitantes fora da arenas.
"Essa
é uma das alternativas que estamos estudando. É claro que isso envolve estudos
relacionados à logística e à segurança, mas o público brasileiro ficou
encantado de vir ao Parque Olímpico e foi uma das lições que aprendemos durante
a realização da Olimpíada", explica o diretor de comunicações da Rio 2016,
Mario Andrada.
Chamariz
A
ironia em tudo isso é que, no caso do Brasil, a Paralimpíada proporciona uma
experiência recompensadora para quem quer ver medalhas. Nos Jogos de Londres,
por exemplo, o Brasil conquistou 43 medalhas, 21 delas de ouro, e fechou na
sétima posição geral no quadro geral. A Paralimpíada conta com mais categorias
por modalidade para acomodar os diferentes tipos de atletas cegos, com
paralisia cerebral e deficientes físicos.
Para o
presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parson, esse desempenho é
um chamariz à parte.
"Não estamos convidando, mas sim convocando os torcedores brasileiros para assistir à Paralimpíada. Temos um dever com esses atletas, que são um símbolo de superação. Em respeito a esses atletas, temos que encher essas arenas. Até porque, com base em nossos resultados, teremos pelo menos um pódio por dia nesses Jogos. Isso é até a base de nossa campanha nas redes sociais", explica Parsons, que também é vice-presidente do IPC.