Publicado em 25/08/2016
Em meio a crise, Correios tornarão mais caro frete de livros pesados
Caixa de correio em frente à Prefeitura de São Paulo, próximo ao viaduto do Chá, no centro da cidade
Hábito
de 15% da população segundo a mais recente edição da pesquisa "Retratos da
Leitura no Brasil", divulgada em maio, comprar livros pela internet vai
ficar mais oneroso a partir de 1º de setembro. Não porque os preços de capa vão
subir nas lojas virtuais, mas sim devido a mudanças dos Correios que afetam
exclusivamente a postagem de livros.
De
acordo com documentos internos da empresa aos quais a Folha teve acesso, os Correios devem passar
a permitir oficialmente o uso do registro módico —que possibilita o
rastreamento de encomendas por 50% do valor do registro comum, de R$ 4,30—, mas
vão proibir a postagem de livros como mala direta, modalidade comum aos
livreiros e a mais barata ao consumidor —encomendas de 1 quilo, por exemplo,
saem por R$ 6,31 independente do trecho percorrido, de acordo com a tabela
oficial.
A proibição contradiz o que
preveem contratos comerciais assinados entre os Correios e os livreiros.
Entretanto, segundo registro de conversas entre departamentos dos Correios,
"a menção da palavra 'livros' referia-se exclusivamente como exemplo de
'periódicos'". O termo será excluído de contratos futuros para que
"sejam evitadas interpretações equivocadas".
Em nota enviada à reportagem, os
Correios —que enfrentam uma de suas maiores crises afirmam que "o serviço vinha
sendo utilizado para remessa de livros, o que causava desequilíbrio na
estrutura de preços da empresa e na cobertura dos custos". "A
proibição", dizem, "se baseia na própria definição e objetivo do
serviço que, em linhas gerais, serve para publicidade com vistas a vendas,
prospecção e fidelização de clientes."
Além de vedar o uso de mala
direta para envio de livros, os Correios vão restringir o volume na postagem
por meio da modalidade impresso a faturar —também bastante utilizada por
livreiros, e que não considera distância entre CEPs—, que passa dos 20 kg
atuais para 500 g. Quem tiver encomenda de livros superior a esse volume, dizem
os Correios, "poderá optar por outro serviço, como por exemplo PAC,
Sedex..."
PESO-PESADO
"O limite exclui
quase todos os livros longos (como 'Dom Quixote'), que possuem mais de um
volume (como 'A Comédia Humana'), coleções (como a antologia da obra do Machado
de Assis) e quase qualquer pedido de consumidores que compram dois ou mais
livros", diz Arthur Dambros, sócio da TAG Experiências Literárias, um
clube de assinatura de livros que envia pelos Correios mais de 10 mil encomendas
por mês.
A reportagem simulou o
custo do envio de "A Divina Comédia", de Dante Alighieri —edição da
34 com três tomos que, somados, pesam 1 kg— de São Paulo ao Rio (considerando
os CEPs das prefeituras). Hoje, é possível despachar os três volumes por R$
9,25 na modalidade impresso. Com a mudança, o livreiro pagará R$ 18,30 em PAC,
ou R$ 28,10 em Sedex —ou mais, se optar pelo registro, que permite o
rastreamento.
"Basicamente, o
livreiro agora está sem opção viável", afirma. "Agora, se
readequarmos o envio para o PAC, como proposto pelos Correios, nosso custo de
entrega triplicaria, obrigando-nos a repassar ao consumidor —algo que estamos
tentando muito evitar."
A diminuição no limite afetará 40% do comércio na Estante Virtual, portal com mais de 2.500 sebos e intermediário de 240 mil vendas em 2015. Richard Svartman, diretor da plataforma, diz que a mudança terá impacto maior "no pequeno livreiro de uma cidade isolada que, com a modalidade [antes da alteração no volume], pode vender para outros lugares do país, e sem a qual não sobreviverá".