Publicado em 13/09/2016

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Metade dos para-atletas do Brasil só praticou esporte após deficiência



Metade dos para-atletas brasileiros só começou a praticar esportes depois de adquirir sua deficiência. Segundo pesquisa do DataSenado, 49% deles não praticavam esportes regularmente antes.

O estudo revela que os para-atletas iniciaram a prática esportiva principalmente para se manterem saudáveis e ajudar na recuperação. O nadador Adriano de Lima, 43, é um dos que encontraram no esporte a força para superar as limitações que a vida lhe impôs.

"Comecei no esporte por causa da reabilitação. Foi uma motivação a mais na minha vida. O esporte mostra do que a pessoa com deficiência é capaz", afirmou o nadador, que compete em Paraolimpíadas desde Atlanta-96. 

Nascido em uma família pobre de Natal (RN), Lima caiu de uma altura de sete metros em uma obra, aos 17 anos. Ele teve uma lesão na medula espinhal que o colocou em uma cadeira de rodas, sem o movimento das pernas.

Antes da lesão, o potiguar, que desde os 13 anos trabalhava para ajudar a família, costumava nadar nas praias e rios de Natal, pedalar e jogar bola, mas apenas como uma forma de diversão, sem treinar regularmente.

Hoje, o nadador tem nove medalhas paraolímpicas. Na Rio-2016, ainda não subiu ao pódio. Ficou em oitavo na final dos 100 m peito e não foi para a decisão dos 50 m livre. Ainda competirá nos 100 m livre sábado (17).

"Hoje vejo minha deficiência como uma coisa que aconteceu. Tenho a capacidade para mostrar ao mundo, ao Brasil, à minha família, que a gente é capaz, basta ter a oportunidade. Essa oportunidade veio pelo esporte."

A esgrimista Mônica Santos, 32, é outro exemplo. Ela sempre foi uma menina agitada e brincalhona. Gostava de esportes, mas não praticava nenhum assiduamente.

Virou cadeirante aos 18, quando desenvolveu um angioma medular. Por volta dos 28 anos, sentiu necessidade de se tornar independente da família. Foi isso que a motivou a procurar um esporte.

"Queria fazer algo que fosse só meu", diz a esgrimista. A pesquisa foi realizada em julho pelo instituto de pesquisa do Senado com 888 para-atletas, em atividade e aposentados.


A esgrimista Mônica Santos posa na Vila Paraolímpica.

DISCRIMINAÇÃO

O preconceito ainda é presente na vida das pessoas com deficiência. Com os para-atletas, isso não é diferente. Cerca de 70% deles relatam já terem sido vítimas de algum tipo de discriminação.

Segundo o levantamento do DataSenado, os casos de intolerância são mais comuns nas ruas (76%) do que no ambiente esportivo (2%).

"Sofri muito na escola. O esporte é que me levou para a vida. Quase não saía de casa. Depois que virei para-atleta, comecei a conviver com outras pessoas e fiquei mais confiante", afirmou o velocista Fábio Bordignon, 24, medalha de prata nos 100 m e 200 m da classe T35, para atletas com paralisia cerebral.

Bordignon nasceu em um parto complicado e teve falta de oxigenação no cérebro. A perna esquerda ficou atrofiada, limitando força e coordenação.

Ele disputou os Jogos de Londres no futebol de sete, mas mudou de modalidade.


O brasileiro Fábio Bordignon fica com a prata na final dos 100 m rasos da Rio-2016.


Depois de perder a vaga na bola em 2014, decidiu mudar para o atletismo e subiu no pódio na noite de sexta (9), no Engenhão.

A velocista Alice Correa, 20, também disse que sofreu preconceito. Ela nasceu cega após sua mãe ter contraído rubéola na gravidez.

Depois de 12 cirurgias, Alice tem 30% de visão em um olho e é cega do outro. "Sofri muito bullying. Na escola, as crianças não sentavam ao meu lado na aula, não podia fazer teatro", contou Alice.

"O esporte me tirou da zona de conforto. Ficava trancada em casa. Agora faço tudo. Ainda convivo com o preconceito, mas encaro a situação de outro jeito", acrescentou ela, que integra o revezamento 4 x 100 m. A equipe é favorita ao ouro no Rio.

http://folha.uol.com.br/

Sérgio Rangel, Lucas Vettorazzo e Luiza Franco