Publicado em 19/09/2018

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Fome e obesidade coexistem em cada vez mais países, afirma ONU

Mais de 50 milhões de crianças estão abaixo do peso e outras 38 milhões têm sobrepeso.


Mais de 50 milhões de crianças estão abaixo do peso e outras 38 milhões sofrem de sobrepeso.


Os altos índices de fome e obesidade coexistem em cada vez mais países, lares e pessoas, como no caso das crianças que sofrem de desnutrição aguda e têm mais probabilidade de serem obesas quando adultas.


Segundo o último relatório das Nações Unidas sobre o estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo, 59 países enfrentam uma significativa “dupla ou tripla” carga de má nutrição em suas diferentes formas.


Destacam-se por registrar simultaneamente altos níveis de obesidade em adultos, sobrepeso infantil, atraso do crescimento, crianças abaixo do peso ideal e anemia em mulheres.


A Indonésia é o único país no qual se observa uma prevalência elevada das três formas de má nutrição infantil, enquanto o sobrepeso e a fome têm uma forte presença entre as crianças de países árabes, como Egito e Líbia; subsaarianos, como África do Sul e Botsuana; e do Pacífico, como Papua Nova Guiné.


Não só preocupa a crescente incidência de sobrepeso e obesidade nos mesmos países e comunidades que apresentam níveis elevados de desnutrição infantil, mas também a carência de micronutrientes (vitaminas e minerais) que afeta 1,5 bilhão de pessoas no mundo.


A coexistência de vários tipos de má nutrição e de obesidade pode ser vista em uma mesma pessoa durante toda sua vida, desde uma mulher com sobrepeso e falta de ferro, até uma criança com fome crônica, que com o tempo acaba ficando obesa.


“É mais provável que a criança que nasce com pouco peso e cresce rapidamente possa adoecer depois de sobrepeso”, diz à Agência Efe o diretor de Nutrição da Organização Mundial da Saúde (OMS), Francesco Branca, que atribui o problema a “razões biológicas” e a uma “maior sensibilidade” ao ambiente alimentar quando já se sofreu de má nutrição.


Para Francesco, “quando um país pobre passa por uma melhora em sua economia, o sistema alimentar muda e certas doenças não transmissíveis relacionadas com a dieta e o sobrepeso começam a crescer, sem que as outras formas de má nutrição desapareçam”.


Essa transição é marcada por um maior consumo de alimentos altamente processados e hipercalóricos, com alto teor de gordura, açúcar e sal, e um crescente sedentarismo.


O diretor de Estatística da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Rosero, afirmou que as famílias com menos recursos tendem a substituir alimentos nutritivos por outros mais baratos, mas de menor qualidade, algo que acontece nos países ricos e cada vez mais nos pobres.


Rosero lembrou que quando uma família passa por ciclos de muita disponibilidade de alimentos – quando come compulsivamente – e por outros de privação, “existe uma mudança metabólica nas pessoas que as faz acumular mais gordura em tempos de abundância e absorver de maneira diferente os alimentos”, aumentando sua tendência ao sobrepeso.


O diretor da FAO também alertou sobre o “estresse” ligado à insegurança alimentar, situação que pode afetar as mães mais vulneráveis e pôr em risco a lactação, importante para a prevenção de doenças nos seis primeiros meses de vida de seus filhos.


As crianças sofrem assim desde o início as consequências de uma alimentação inadequada, embora os números em nível global falem de uma diminuição nas taxas de atraso no crescimento (de 25% em 2012 para 22% em 2017), que ainda representam 151 milhões de menores de cinco anos.


Mais de 50 milhões de crianças estão abaixo do peso e outras 38 milhões sofrem de sobrepeso, segundo dados da ONU.


“A desnutrição infantil está caindo em todas as regiões, exceto na África, enquanto os níveis de sobrepeso e obesidade estão aumentando em todas as regiões, inclusive na África”, afirmou o chefe do programa de nutrição global do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Víctor Aguayo, na apresentação do relatório.


Francesco criticou o fato de que, no fundo, “os sistemas alimentares não estão fazendo seu trabalho” e pede maiores esforços para produzir alimentos de qualidade e vendê-los a preços acessíveis, sem esquecer outros fatores que influenciam na má nutrição, como falta de cuidados de saúde, higiene e água potável.

EFE SAÚDE