Publicado em 29/05/2019

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Baixa taxa de doação de órgãos afeta transplantes pediátricos

Caso de meninos gêmeos com cardiopatia chamou a atenção para baixo potencial de doação nessa faixa etária


O Instituto do Coração realiza cerca de 20 transplantes pediátricos ao ano - Foto: Visualhunt


O Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), tratou do caso dos irmãos gêmeos Enzo e Benjamin, que enfrentavam a mesma doença cardiovascular, chamada cardiomiopatia dilatada. Em 2017, a família os trouxe, com poucos meses de vida, do Maranhão para São Paulo, em busca de tratamento adequado. A doença das crianças consiste num conjunto de alterações do miocárdio que acaba levando à dilatação do coração, causando insuficiência cardíaca. Ambos estavam sendo medicados, mas houve a necessidade de transplante – ao qual Enzo foi submetido com sucesso. Benjamin permanece estável e aguardando na fila de transplantes, organizada segundo critérios rigorosos do governo federal.


O caso chamou a atenção para alguns problemas logísticos de situações como essa. O doutor Luiz Fernando Caneo, cirurgião cardiovascular da Unidade Cirúrgica de Cardiopatias Congênitas do InCor, foi o responsável pelo transplante de Enzo e conversou com o Jornal da USP no Ar. O especialista afirma que a grande dificuldade foi encontrar um órgão disponível, devido ao baixo número de doações dessa faixa etária. “No Estado de São Paulo, nós estávamos há quase seis meses sem notificação de um possível doador abaixo de dez quilos. Esse número é muito pequeno. Nós temos muito mais crianças esperando na fila de transplante do que doações”, alerta o cardiologista.


As longas filas são responsáveis por gerar outras preocupações, graças aos vários fatores que prolongam a espera. Uma delas é a ausência de suportes ventriculares que auxiliam no controle das doenças cardíacas: “Isso é feito através dos corações artificiais, que seriam implantados no caso de uma piora clínica, na qual a medicação não teria mais como dar suporte. Então, nós poderíamos colocar esses dispositivos, permitindo um maior tempo de espera pelo transplante por parte do paciente, mas esse procedimento é caro e ainda há muitas limitações aqui no Brasil”, explica o doutor.


O InCor realiza cerca de 20 transplantes pediátricos ao ano, mas o País lida com diversas dificuldades em realizar essas operações, principalmente no que trata da assistência aos pacientes durante a espera por um transplante. O caso dos meninos gêmeos ressalta a importância da doação de órgãos e da realização de diagnósticos precoces, que facilitam um tratamento adequado.

Jornal da USP